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Carta de Vitória da Conquista 2023

I Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia

 

O Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia é um espaço de encontro e discussão cujo objetivo é abordar questões cruciais relacionadas a identidade, memória, formação, produção e disseminação do audiovisual brasileiro, regional e baiano. Em sua primeira edição, durante três dias, em Vitória da Conquista, representantes do poder público e da sociedade civil debateram pautas prioritárias, como a Lei Paulo Gustavo, a implementação de uma empresa pública estadual de cinema e a discussão de políticas, estratégias e demandas para fortalecimento do audiovisual em todas as suas interfaces de pesquisa, preservação, memória, formação, produção, distribuição, exibição e fruição, considerando os agentes culturais e públicos dos interiores como protagonistas. Durante três dias de programação estruturada por eixos, as discussões centrais foram sobre: representações audiovisuais no estado da Bahia – articulações e associativismo; circuitos, espaços e eventos de difusão independentes; cinema no interior – economia e territorialização das políticas públicas do audiovisual; diálogo entre escolas de cinema do interior da Bahia; preservação e memória do audiovisual baiano; interiores plurais – coletivos e movimentos nos territórios baianos de identidade; modelos produtivos – projetos de polos e empresas públicas de cinema na Bahia; inclusão no cinema; e difusão audiovisual das produções interioranas – um diálogo com TV e VOD.

 

O setor do audiovisual está diante da oportunidade de estruturar estrategicamente a cadeia produtiva para a garantia dos direitos culturais e o desenvolvimento econômico-social de forma abrangente em todo o território nacional.

Ao tempo em que a maior possibilidade de acesso a equipamentos e também a multiplicação de telas ampliam a produção de obras, ainda existe o domínio avassalador de conteúdos produzidos em grandes centros, alimentado pelo histórico de concentração de investimentos, que não abrange as visões, vivências, narrativas e o patrimônio cultural dos interiores.

Por isso, é urgente criar arranjos que permitam aproveitar todo o potencial e abarcar a variedade de modelos produtivos e de fruição, especialmente nos interiores do país, tanto nos municípios distantes de capitais, quanto nas periferias e zonas rurais de grandes conglomerados populacionais. Os interiores trabalham incansavelmente para conquistar espaço e reconhecimento no cenário nacional e internacional.

Em 2023, o Brasil caminha para a aprovação da cota de 30% para a produção audiovisual independente brasileira na TV paga, mas, embora mais esse passo e outras conquistas pontuais, continuamos a enfrentar barreiras no acesso às políticas públicas. Os editais lançados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) muitas vezes seguem lógicas de mercado que excluem as produtoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e dos interiores do Sudeste e do Sul.

Junto com outras entidades de todo o país, defendemos que algumas bandeiras nacionais são estruturantes e não podemos deixar de lutar por elas. A Bahia, por exemplo, desempenha um papel importante nesse cenário, já que consagra, em sua Lei Orgânica da Cultura, a territorialização de ações e investimentos culturais. Mas é necessário ampliar os horizontes e repensar as políticas públicas de audiovisual na Bahia e no Brasil. Devemos construir um modelo de governança que seja replicado nos estados e municípios, garantindo maior pluralismo e democracia na produção audiovisual, com base na rica experiência da execução das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Além dos recursos federais para regionalização e produção, entendemos que os entes locais, prefeituras municipais e governos estaduais, devem ampliar a atuação, mobilizando recursos próprios para fomento.

A descentralização é um ponto crucial para garantir o acesso a oportunidades no audiovisual. Devemos lutar por políticas que promovam a produção audiovisual nos interiores da Bahia e do Brasil, reconhecendo sua diversidade cultural e propiciando a formação de novos talentos. O que é produzido localmente não pode ser tratado como um acessório, mas como parte das diferenças e especificidades da cultura brasileira.

Entendemos que, para alcançar esses objetivos, é necessário que a gestão pública mantenha, em seu quadro funcional, agentes capacitados para compreender, dialogar e operacionalizar as políticas culturais e de fomento que contemplem a diversidade territorial. Esse esforço deve ir além da criação da Bahia Filmes e outras iniciativas equivalentes, perpassando por todas as ações realizadas pelo poder público. Um exemplo disso é o estabelecimento de cotas para proponentes e propostas dos interiores, em observação ao artigo 4a da Lei Orgânica da Cultura da Bahia e seguindo o exemplo de outros governos estaduais, como São Paulo, que destina 50% dos recursos dos editais para iniciativas externas à capital.

Os cenários, personagens e narrativas dos povos dos interiores são temas riquíssimos presentes em obras realizadas por grandes produtoras nacionais e internacionais, muitas vezes reforçando estereótipos e desrespeitando a cultura regional. Contudo, essas produções não devem apenas retratar os interiores nas telas, mas tanto deixar um legado para a economia regional quanto proporcionar maior capacitação técnica dos profissionais locais. E, mais além, queremos autonomia para sermos os protagonistas de nossas próprias histórias, na frente e atrás das câmeras.

Nossas demandas não se restringem apenas ao setor audiovisual. A memória e as experiências audiovisuais podem ser utilizadas na construção de uma sociedade mais inclusiva e representativa. Precisamos investir em tecnologia e conhecimento para garantir que os múltiplos olhares e experiências dos interiores sejam produzidos, compartilhados e preservados.

O I Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia constitui-se como passo importante para fortalecimento da nossa atuação e garantia de que o audiovisual seja uma ferramenta de inclusão, diversidade e representatividade. Como primeira vitória, conseguimos o compromisso da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, em parceria com o Governo da Bahia, para a reforma e a reativação do Cine Madrigal, equipamento cultural de grande importância para a memória da cidade e que será um elemento central para o desenvolvimento do audiovisual local em conjunto com outras iniciativas de universidades, TVs, empresas e sociedade civil da cidade, que é o berço de Glauber Rocha, e também de sua região.

Nós, profissionais e entidades do setor, estamos comprometidos com a missão de continuar a lutar por um audiovisual brasileiro mais democrático e plural. Este é apenas o começo de uma jornada que esperamos que seja bem-sucedida, em busca de um futuro promissor para nosso mercado e nossos interiores. Em 2024, estaremos juntos novamente para avaliar os resultados das escutas, diálogos e articulações promovidas no encontro e consolidar os caminhos para garantias de visibilidade e fomento para o setor audiovisual nos interiores.

 

O interior é o mundo todo.

 

 

Vitória da Conquista (BA), 01 de setembro de 2023.

 

 

Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste Baiano - SASB

Articulação Cultural da Bahia – ACUBA

Fórum Permanente de Cultura de Feira de Santana

Coletivo Audiovisual de Ilhéus

Movimento Puro Cinema Puro

Mortugaba Filmes

Associação de Roteiristas da Bahia – AUTORAIS

Associação de Profissionais do Audiovisual Negro – APAN

Associação de Produtores e Cineastas da Bahia – APC

Conexão Audiovisual Centro Oeste, Norte e Nordeste – CONNE

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